ensaio IX - Eu me “remexo” muito

Quem não sabe mais o que é nem onde está, é porque precisa se mexer. Embora o aforismo pareça extenso e confuso, ele resume o quadro de revoluções do mundo atual. Quando não nos reconhecemos mais como sociedade, é preciso fazer barulho.
Tal como numa história, os monstros do deserto são substituídos por jovens cavalheiros e damas, ao invés de espadas empunham panelas, sprays e faixas com frases de libertação. Mais uma vez, na história humana, o desejo por mudança se revela e se refaz nas praças públicas das cidades.
Não estou a falar de metrópoles, falo de países que de tão pequenos nem sempre figuravam as capas dos jornais e principais manchetes televisivas, mas quando o povo ganha as ruas e praças públicas, ao invés dos cânticos e orações religiosas ecoa aos quatro ventos-cantos do mundo os gritos por transformação. Chega de intolerância! Chega de censura! Chega de dureza, miséria e corrupção!
O cenário é árido. Mas não são seres de pedras, duros e rudes. Se preciso for tornam-se bombas, mas preferem não. Se preciso for trocam as panelas por coquetéis molotov, preferem não? Preferem não silenciar e não parar diante do monstro que devora o poder e silencia o país.
Atravessando o oceano, os homens do outro lado assistem, se preocupam e, alguns, torcem. Há dez anos as cidades de areias estampam os noticiários, dando a impressão do dia inacabado.  Um mundo novo se constrói desde que as bombas foram lançadas contra o castelo de espelho. Ver corpos sendo lançados e misturados aos destroços, não é a imagem mais poética de assistir, contudo, ter a miséria e os direitos cerceados por gigantes ditadores, em nome de uma religião ou em troca de cifrões, também não torna a realidade lírica.
Sempre que os homens dos países de areia se movimentam é poeira levantada para o mundo de concreto. Reação. Preocupação. Ocupação. Invasão. Tudo em nome da ordem e paz mundial, dita universal. Contudo, os guerreiros de areia gritam em praça pública e exigem mudança lá e aqui, do outro lado do oceano.
A história tem se construído diante dos olhos. Lascas têm sido deixadas nos caminhos do tempo. Caminhar e existir no cenário de concreto e na areia do deserto requer compreensão, cuidado e consciência. Mudar se faz necessário quando as vozes silenciadas, os corpos chicoteados despertam. Não há pedras para serem lançadas. Há praças para serem ocupadas.
Se para uns os impulsos revolucionários geram desconforto e mais intolerância, para outros é o despertar de um novo mundo que se constrói no horizonte, só que dessa vez sem caravelas e os açoites da colonização.  Se mexer ainda é um jeito de não perder a memória e continuar sabendo quem é e o que se quer ser.

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