ensaio II - Atadura urbana

Nasce, morre-nasce, segue. Para aonde caminham os passos humanos, que aturdidos pela pressa da cidade buscam o sentido, muitas vezes monótono, da conquista? Eis que ela no piche contrasta e faz dos caminhos tabuleiros. Como num jogo, uns aguardam pelo sinal para fazer a travessia. Instalada como ponte no meio da cidade, cumpre sua função: estabelecer a ordem. O que seria do homem sem a faixa de pedestre?

Pisoteada a cada envio de sinal, retas e branquelas colorem-se na efemeridade do ir e vir. Sapatos alheios à sua existência atravessam seus caminhos para cumprir com a rotina. Carros, ônibus, caminhões, motos, bicicletas passam-lhe por cima, a ignoram. Talvez, cada vez que o homem se omite de sua existência parte de si, se apague no compasso do tempo.

Estática, guardiã de vidas sente os estilhaços e pedras no meio dos caminhos de uma cidade desnorteada. Concentra erros e acertos de homens que como heróis do cotidiano retornam ao ponto de partida. Ela, atadura, observadora silenciosa de mortes e protestos, filha da conquista cidadã respira a cada parada.

Substantivo que comum aos homens recebe a histeria da metrópole pela ânsia de querer chegar. Qual será a sua ética? Qual é a ética do nobre cidadão, que sobrevivente da labuta do dia-a-dia, vê seus passos sendo guiados na inconstância e efemeridade de existir.

Os olhos-semáforos os sinais verdes, vermelhos e amarelos a rotina da faixa, se des-refaz nas travessias, estabelecem as regras da convivência urbana. Homens mapeiam na sua rotina a escolha dos caminhos. A faixa, símbolo da ordem na cidade, estampa capas de discos e se perpetua no tempo.

Nesta terra de trânsitos, caminhantes afobados pela conquista são assaltados pelo desejo de somente seguir. Vão para longe, atravessando pontes impostas pelo crescimento e transformações dos vilarejos em grande centro urbanos.

Ela, rente ao chão-corpo sente tremores, seu é espaço invadido pelos ruídos absortos à sua quietude. Buracos, poças, poros que abertos assinalam a necessidade de respirar. Achatada, esparramada diante da verticalidade, das luzes da cidade que grande arranha o céu do passarinho, num horizonte sem perspectivas o homem se vê pequeno.

Na brancura que tinge de luz os caminhos encardidos da cidade cinzenta. Ela, observadora de azuis, acompanha nos cruzamentos os caminhos que levam ao sul. Ali, no encontro das encruzilhadas, pontos de Exus vêem os homens errante buscando responder o possível sentido de existir.

Comentários

romério rômulo disse…
te encontrei no facebook.
romério
Pedro Jones disse…
Narrativa ilustrada... efígie de estados, fatos! Parabéns!

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