ensaio primeiro


“ (...) Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira! Fala!
Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?
(...)
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria”[1]
Língua que é mãe, traduz o indivíduo e o manifesta em sua pátria: Terra. Substantivo feminino que se revela no coletivo, atravessa a herança genética, expressa traços de um tempo e sua relação com e no o espaço.
Rebento da tradução infinita de expressões orais, escritas, plásticas, melódicas e ritmicas a língua  tudo e o todo descortina. Orgão de articulação, conecta o homem ao mundo exterior, possibilita-o diferenciar-se e expressar-se na pluralidade, encaminha o ser humano ao ‘desafio’ de existir simbolicamente.
A ‘língua-ladainha’ em esquinas travestidas em choros que cantam, tocam  e encenam a ágora da diversidade, coloca o homem em debate: ser ou não ser... ela ja o é. Compõe em sua dialética o fluxo de integrar o joio, separar o trigo. Normatizada, estilizada, profanada nas ruas, becos, vielas, esquinas, bares, boutequins não faz de todos poetas.
Os cultos a cultuam em suas escrivaninhas, seus dedos tocam os teclados, formam conteúdos registrando a ciência; línguas dos incultos, dos traços cotidianos, dos ‘coloquialismos’ que a transformam, dando forma aos ‘erros-acertos’ dos que percorrem seus caminhos.
Na terra, áridos solos secam a poesia, histórias de uma língua peregrina. Dos mares de Caminha para terras de tupis, fez nascer caboclos; ela, língua-colônia que acorrentou povos da mãe-África, nos terreiros foi reinventada, nos samba(quis) criou raiz.
Ela, língua, que da carta jaz caminha, permite ao escritor divagações que buscam o belo em prosa sem métrica, intui poesia. Pede licença à academia e se deforma seguindo a intuição. Sem justificativa, sem presunção, sem ser o que não é permitindo ser o que é: fluxo da vida.


[1] Trecho da música Língua, de Caetanos Veloso.

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