O (I)MUNDO AMOR DE UMA NOITE [VIDA] VAZIA

[MADRUGADA]


Era meio da madrugada quando bateram na porta. Fazia uma semana e meia que não se via a rua e não saia daquele quarto.

Hesitou em abrir a porta, pois não queria perder um segundo longe da cama e do corpo que estava sobre ela.
Levantou-se. Ficou alguns segundos, suspensos no ar, observando aquele amor vadio que descansava o corpo, após longas horas de muito gozo.
Veste-se e segue em direção a porta. Já não se ouviam mais batidas impacientes. Olhou pelo olho-mágico e lá estava ele: calado e sem graça pelo tempo que ele ficou longe.
Olham-se, por alguns minutos. Convida-o para entrar. Nenhuma palavra. O tempo e a distância tornou-os desconhecidos.
Ela vai até o quarto, abre a carteira e pega seus últimos R$ 5,00. Volta à sala e lhe dá o dinheiro. Pede para que vá embora.
Surpreso com a recepção, ele aceita o dinheiro. Levanta-se e num rompante vai em direção ao quarto. E lá está o corpo nu, que inerte ao cansaço e ao mundo exterior, simplesmente dorme...
Ela, Jezebel, em seu vazio silencioso pede para que ele vá embora. Ele se aproxima e em sua excitação surda, tira as poucas roupas que cobriam o corpo da mulher que um dia havia amado.
Jezebel rendida se entrega àquelas mãos que tantas vezes lhe pagaram por carinho e prazer. Trêmula sente o calor da boca daquele que a enojava. Beijam-se.
Ele a toca intimamente. Jezebel se entrega àquelas mãos e boca...
Os corpos fundem-se e confundem-se entre o nojo e prazer daquele encontro. Entregues, mancham as paredes do quarto com o suor de seus corpos.
Entrelaçados, ele a leva para cama. Agora os dois movimentados pelo prazer unem-se a inércia do corpo - outro, que dorme embriagado das noites que passara acordado bebendo do corpo de Jezebel.
Agora, são três corpos unidos, pelo calor daquele quarto.
Jezebel entregue aos sussurros, toque e calor daquele homem, dorme. Ele a observa. Levanta-se, veste-se e tira da carteira R$ 5,00 coloca-o sobre o criado-mudo ao lado de Jezebel, que está entregue ao sonho.
Ele caminha até a sala e sai. Parte com a fome saciada.

[AMANHECE]

Ela, que dormira a noite inteira, acorda. Acende um cigarro. Observa o corpo nu de Jezebel. Toca-lhe o corpo, cheira-o e sente o sabor de Jezebel, que dorme entregue ao cansaço da noite não dormida.
Ela mata sua fome com o corpo-gozo de Jezebel. Levanta-se. Veste-se. Tira da bolsa o valor de uma semana e meia de amor com Jezebel. Coloca a quantia sobre o criado-mudo. E parte.

[MEIO DO DIA]

Jezebel acorda, olha ao seu redor.
Na sua frente: um espelho observa-se. Vê o dinheiro sobre o criado-mudo. Abre a gaveta do móvel e retira de lá, sua única esperança de um novo reviver.Da lâmina prateada, o liquido viscoso e vivo marca o fim do prazer e gozo daquela mulher. Os lençóis brancos ficam rendidos ao vermelho dela.
A claridade do dia faz refletir nas brancas paredes do quarto, o vermelho vivo de Jezebel.

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