Eram 16h30, de uma terça-feira, quando Ela-eu entrou o saguão do hotel suntuoso. Nervosa, ansiosa e temerosa, Ela-eu trazia na bolsa: gravador, livros e um caderno com o roteiro do que precisava ser dito. Sentada no hall de espera, Ela-eu folheava o caderno e fazia anotações, não queria esquecer nada. Lembrava das aulas de técnicas jornalísticas, dos manuais de entrevistas. Regra número um: deixe o entrevistado a vontade. Sua mão formigava diante de tal regra, se perguntava como faria tal proeza. Regra número dois: não interrompa a fala da sua personagem... Ela-eu já havia estado no palco, sabia que o momento certo para falar era “nas deixas”, seus pensamentos se atropelavam, desajeitada Ela-eu escrevia com letras miúdas no caderno para ganhar tempo. Passaram dez minutos, até que a porta do saguão voltasse a abrir e Ela-eu se visse diante da sua personagem, ou melhor, do autor das personagens-vozes que ecoavam nos seus-meus livros de cabeceira. Ela-eu levanta-se, sem ter um espel...